- Está errada. - ele continuou, os olhos fixos na janela. - Vocês deveriam saber que o oposto do amor é a indiferença, não o ódio.
Ele se ergueu, a encarando com os olhos amarelo-ouro.
- Nós não odiamos a humanidade, a verdade é que não nos importamos. Eu estou pouco me lixando se uma criança morre de fome, de frio ou qualquer outra coisa, isso, isoladamente, não me causa prazer algum. Eu apenas não ligo.
Anna sustentou o olhar dele.
- Mas vocês torturam, agridem, humilham. Se não é por prazer, pelo que é?
- Interesse. - ele deu de ombros. - O ódio é um sentimento ruim, Annie, até mesmo para seres como eu. Ele cega, desorienta. Eu não odeio ninguém, eu apenas não me importo.
- E eles se importam?
Ela não disse a quem se referia, mas ele demonstrou entender pela careta de desgosto que fez.
- Sim, eles se importam demais. O oposto da nossa indiferença é o amor deles.
Anna sentou-se no batente da janela, observando a lua minguante no céu.
- Por que você me contou isso? Está tentando me "catequizar"?
- Não. - ele se aproximou de tal forma que ela podia sentir a respiração quente dele em seu rosto. - Apenas a estou alertando. O ódio é um sentimento perigoso, te deixa vulnerável. É por isso que não somos escolhidos entre aqueles que odeiam.
- Então eu deveria esquecer tudo o que ele me fez, toda a dor que eu senti, e ser indiferente?
- Talvez fosse mais saudável.
Ele se afastou, indo para as sombras do quarto, como sempre fazia quando ia embora. Antes que ele sumisse na escuridão, Anna arriscou.
- E me aconselhar não é uma forma de se importar comigo?
Ela esperou uma resposta, mas ele já havia partido.
Um comentário:
Ai Vivi, quer saber de uma coisa? No mundo tem mais demônios do que gente. Gente que nao se importa...
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