segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Vida adulta

Lembro-me superficialmente da ideia de que seria adulta ao fazer dezoito anos. Passei meu aniversário em um motel, só porque a partir daquela data era maior de idade e precisava ir a um lugar que não podia antes. Mas creio que não me senti adulta realmente naquele momento. Eu comecei a trabalhar cedo, com quatorze fazia bicos, com quinze já tinha emprego. No entanto era muito medrosa, a única dívida que fiz foi um curso de inglês, que passei uma dificuldade absurda para terminar de pagar quando fui mandada embora. Nunca mais. Estou divagando. Citei meu começo como trabalhadora porque o trabalho não me trouxe a sensação de vida adulta. Nem o sexo, nem a faculdade. Na verdade, acho que nem mesmo a pós-graduação. Recebi o título de bacharel, de licenciada, de mestre, mas não tinha a consciência de ser, realmente, adulta. Acho que nem ao menos pensava nisso. A primeira vez que senti que entrava no mundo adulto foi quando precisei decidir o destino do meu dinheiro. Que banco? Poupança? CDB? Hoje me sinto mais adulta do que nunca, tentando administrar minhas dívidas, com vários deadlines correndo, quando vejo que sou a pessoa a quem meus alunos recorrem, eles confiam em mim e confiam no que lhes digo. E, principalmente, não há ninguém para cuidar de mim. Tenho pai e mãe vivos, graças a Deus, irmãs, sobrinha, cunhados, marido, sogra, sogro, padastro, gato, amigos. Porém minhas responsabilidades são minhas e intransferíveis. Noto só agora como fugi por tantos anos de assumir meus compromissos, como pedi que outras pessoas resolvessem meus problemas, que organizassem meus prazos, que ignorassem minhas mancadas com datas, que aceitassem minhas desculpas, que administrassem meu dinheiro. Está meio pesado, sabem. E não deve ter definição melhor para a vida de adulta do que essa sensação de que você é necessária e que não pode se dar ao luxo de deixar para lá. Ainda não decidi se gosto disso ou não.